Morar fora é uma grande aventura. A decisão de largar tudo e mudar de país foi uma das mais fáceis e das mais difíceis que já tomei. Mudar de vida, de profissão, ser a pessoa que você quiser e começar do zero em um país diferente mas, ao mesmo tempo, estar aqui sozinho, sem a família e aquelas pessoas que te conhecem a vida toda, ter toda sua experiência de anos de trabalho começando do zero, são sentimentos conflitantes.
Óbvio que tem muito mais pros que contras, ou não estaria morando aqui ainda, muito menos com minha filha.
Uma das épocas do ano que mais sentimos falta dos amigos e da familia é durante as festas. No Brasil, em dezembro começam as mil comemorações e festas de final de ano. Isso é tão engraçado como precisamos ver todo mundo em dezembro para celebrar o final do ano: festa do inglês, com o pessoa da escola, do trabalho, do MBA, da família por parte de mãe, da família por parte de pai, da familia do marido e por ai vai.

Quando você mora fora, as coisas são um pouco diferentes, a não ser que você tenha família aqui. Muita gente vai para o Brasil nas festas. Para os que ficam a coisa é um pouco diferente.
Nosso primeiro ano aqui, passamos um Natal bem diferente. Dia 24 convidamos um casal de amigos para almoçar em casa e jantamos só nós dois em casa. Nossa árvore de Natal era minúscula porque nossa casa era um ovo. Nada de festa de empresa, mil festas de família e aquela zona na qual cresci. Dia 25 almoçamos na casa da nossa vizinha que mal conheciamos. Foi bem diferente de tudo que já tinha vivido.
No nosso segundo ano fomos viajar nas festas. Dia 24 ceiamos num albergue em uma cidade minúscula em Walpole, sul da Western Austrália. Lembro de um casal que conhecemos lá, que a mulher era holandesa e ela ficou falando dos horrores que ela via nas australianas, que estavam “até depilando a sobrancelha” (horrorizada). Dia 25 meu marido passou mal e acabamos o dia no hospital, ao invés da praia que tinhamos planejado. Naquele ano tive festa de final de ano do meu trabalho e até amigo secreto. Encontramos amigos antes da viagem para um almoço de Natal.
No terceiro ano estávamos também viajando, mas algumas coisas mudaram: primeiro que tivemos a primeira festa da empresa do meu marido, em um esquema “Sex and the City”, um jantar dentro de um museu. E teve tambem festa do meu trabalho, em um parque, com as familias dos funcionarios. E na ceia de Natal estavamos com amigos queridos em um lugar maravilhoso ao norte de Perth.

Com os anos fomos conhecendo nossa tribo, fortalecendo as amizades, nos estabelecendo profissionalmente. No quarto ano passamos as festas em Sydney, e no ano passado fizemos um almoço de Natal em casa com os amigos, ja com nossa filha. As festas das empresas em que trabalhamos atualmente, tanto do meu marido como do meu, são somente para funcionários e nao para a familia, e tivemos diversos encontros com os amigos. Voltamos a ter a correria do mês de dezembro. Ano passado foi o primeiro Natal da minha filha, e ai fica mais especial ainda. Sem papai noel (por questões pessoais), mas comemoramos o Natal como eu sempre gostei e que são as melhores lembranças da minha infância: casa cheia, aquele barulhão, crianças correndo pela casa, muita comilança e amigos.
Esse ano receberemos os amigos em casa mais uma vez. Será mais íntimo pois alguns dos nossos melhores amigos estarão embarcando de volta para o Brasil em fevereiro, entao vamos fazer um Natal de despedida. Teremos amigo secreto de $10, barulho, crianças correndo pela casa e nossos amigos.
Claro que bate uma saudades forte da família, principalmente no Natal. Porém aprendemos a dar um novo significado a essa data: celebrar as amizades e nossas escolhas. E uma coisa que adoro de morar fora é de ter um pouco mais de escolha do que fazer, menos obrigação. Isso em geral. Finais de semana são nossos, não temos obrigação de visitar ninguém. Não sei como é a família de vocês, mas a minha era uma coisa. Tinha visitar meus sobrinhos, meus sogros, ver as tias, minha Vó. Minha família marca sempre mil coisas nos finais de semana porque somos bem festeiros, então sempre estávamos ocupados. Aqui não, os dias são nossos. E nas festas é assim também. Escolhemos ver as pessoas mas escolhemos ficar em casa também.
Hoje, Natal para nós é menos sobre presentes e comidas, mais sobre amizades e escolhas. Um Feliz Natal para meus queridos leitores, e até 2018 🙂