Quando morei nos Estados Unidos em 1998 fui com duas malas e voltei com duas malas e cinco caixas enviadas pelo correio. Tinha 18 anos. Quando tinha 28 anos, fui morar na Itália e levei um mochilão. Esqueci que iria passar um inverno na Europa, o que me fez gastar com roupas de inverno, mas voltei com o mochilão, uma mala grande e uma pequena de livros (sempre minha perdiçã0).
Nos Estados Unidos comprei tudo novo. Na Itália, pouco novo, muita promoção e muita coisa segunda mão. Acredito que porque a Europa passou por duas Guerras, a cabeça é outra. Não há o grande apelo para comprar desesperadamente como tem nos EUA. A Austrália é o meio do caminho: nem muito consumista, nem muito desapegada. O que eu amo, não sou fã de extremos, o equilíbrio sempre me agrada mais.
Assim que cheguei na Austrália, estranhei muito a questão da reciclagem não estar implementada e as pessoas não saberem direito como faz, como tratei no meu post “Resíduos e Reciclagem“. Vim com o necessário de roupas e sapatos, mas é claro que como não conhecia o clima aqui acabei não usando muita coisa e precisando de outras. Minha primeira ida ao Brasil levei muita roupa que não usei e trouxe outras mais úteis.
Quando chegamos, viemos com dinheiro contado, pagando pós graduação e ainda sem emprego. Para nosso desespero, a nossa primeira casa era sem móveis. Nessa hora conheci uma das coisas mais legais daqui: o Gumtree, uma espécie de mercado livre que as pessoas vendem e compram itens usados, ou pré-loved como eles chamam. Mobilhamos a casa com coisas usadas e gastamos muito menos. Com o tempo, as mudanças de casa e nossa situação financeira melhorando, trocamos alguns dos móveis. Já vendi muita coisa e comprei mais um monte. Nas comunidades de brasileiros também há uma grande oportunidade de comprar e vender móveis. Eu adoro essa cabeça de comprar coisas usadas.
E não pense você que isso é só prática de quem não tem grana para comprar móveis novos, não. É hábito, cultura. Claro que conforme seu poder aquisitivo aumenta, as pessoas gastam mais, mas não necessariamente novo. Essa de casou ou comprou a casa tem que ter tudo novo é incomum. Eu mesma ganheir um monte de coisas usadas das mães dos meus pequenos para a minha filha quando engravidei. Não é o máximo?
Além do Gumtree, tem um outro grupo (mais de um) de troca ou doação de coisas: freecycle é um que eu adoro e tenho uma máquina de café maravilhosa que peguei de graça lá, tem grupo de bairro também no facebook.
Outra coisa muito bacana são os bota-fora ou “hard waste collection”. A prefeitura organiza coleta de coisas usadas, quebradas, não desejadas em geral. Então duas vezes por ano, as pessoas colocam essas coisas na rua. Tem muita tranqueira, mas muita coisa legal também. Geladeira, fogão, televisão, móveis, coisas de jardim e de bebê. Minha amiga pegou o berço do bebê na rua. Até hoje passeamos no bairro quando tem coleta para ver se não achamos nada legal. Nossa primeira mesa de jardim, que hoje esta com uma amiga porque nossa cachorra arriou a mesa de pular nela, pegamos na rua. Carregamos duas quadras, eu e meu marido pela rua. Nosso primeiro microondas foi fruto dos bota-foras também.
Até no trabalho fazemos isso. Temos vários itens que pegamos nos bota-fora. Incorporamos pias de cozinha na nossa cozinha no jardim, camas usadas na casinha de bonecas e até armários para guardar coisas. Tem pessoas que alugam vans e vão pegar coisas na rua. Muitos fazem disso um negócio, pegando itens com defeito, consertando e vendendo depois.
Toda mãe sabe que se usa muito pouco roupas de bebê. E o meu lugar favorito de comprar coisas de bebê é em uma loja chamada “Mum 2 Mum“. As mães levam coisas que não usam mais para vender e comprar coisas usadas por um preço bem bacana. Compro muita coisa para minha pequena lá. E a média dos preços é $5 dependendo do estado, da marca e do que é. Brinquedos, roupas, fantasias, roupa de cama, tem de tudo.
Entre meus amigos, nós sempre trocamos ou doamos coisas. Coisas de bebê vai passando de uma amiga para outra, como fazia com minha família no Brasil. Móveis, eletrodomésticos, tudo. E emprestamos muita coisa também. Uma forma muito legal de não consumir tanto e dar um ótimo uso para nossas coisas.
Como trabalho com sustentabilidade, acho facinante essa cultura do usado. Dar um novo uso para algo que poderia ser considerado lixo é maravilhoso. Como dizia o Rei Midas, “o lixo de um é o tesouro do outro”. E vamos reutilizar.
See ya
Interessante.
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OBrigada por acompanhar o blog.
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