Um dos dias mais difíceis da minha vida foi naquele dia frio de novembro quando deixei minha Sorella Luisa em Firenze, rumo ao final da minha viagem que mudou minha vida. Aquele taxi até a estação de trem e vendo pela janela a vida que eu deixava para trás, os lugares que foram meus por meses e naquele momento eu deixava de ser moradora para ser turista. Me apaixonei por Firenze de uma forma insana. Coisa de outras vidas, com certeza.
Durante todos os anos que passei longe da cidade que me apaixonei, não parava de pensar em voltar. Porém a vida acontece e somente 9 anos após a dolorosa partida consegui voltar a Firenze e dessa vez mais especial ainda: com meu marido e minha filha.

Foi uma viagem cuidadosamente organizada e programada. Entre muitas coisas que faríamos separamos uma semana para minha cidade. Sim, 7 dias só nela para explorar e rever tudo com olhos tão diferentes que eu tenho hoje.
A viagem na Itália começou em Verona, encontramos a família do meu marido para conhecer nossa filha. Pisar na Itália, ouvir italiano e sentir o cheiro desse país já me fez muito feliz mesmo estando tão exausta.

Tenho certeza que minha ligação com a Itália é de outras vidas. Uma emoção de estar de volta indescritível. Os dias em Verona foram muito legais, já conhecia a cidade, mas passei uma tarde. Dessa vez passamos 4 dias com a família toda. Tive oportunidade de caminhar sem pressa pelas ruas, ir aos pontos turísticos cedinho (vantagens de ter filho pequeno que acorda mega cedo). Como é maravilhoso ficar em um lugar por mais tempo. A vida sem pressa com filho. Depois de Verona, seguimos com meus sogros por uma semana para O lago de garda e enfim, finalmente para minha amada Firenze.
Decidimos ir de trem e mesmo com maior perrengue com as mil malas e carrinho, e bebê, mas conforme íamos nos aproximando de Santa Maria Novela mais forte batia meu coração. Chegamos! O trem parou. Ai que felicidade. Um calor de queimar o cérebro e a cidade abarrotada. Exatamente como eu lembrava dela. Pegamos um taxi e uma italiana muito simpática me fez ver que a Itália que morei não era mais a mesma. Italianos simpáticos, serviço ao cliente bom, sorrisos. A rua do Duomo é fechada para carros, muito mais organizada e em obras. Um tram que eu lembro ser projeto lá em 2008 está acontecendo agora, em 2017. Ah, Itália.

Consegui dar minha primeira olhada no Duomo. Meu Deus, que emoção. Como é maravilhoso, ainda mais que eu lembrava. Ficamos em um Airbnb há uma quadra dele. Da janela conseguíamos vê-lo. Assim que chegamos nos acomodamos e fomos almoçar. Levei minha família para O zazá, um dos melhores restaurantes que já fui, famoso pela massa trufada. Amamos. Até minha filha de 1 ano e meio adorou.
Saímos do restaurante e fomos caminha pela cidade. Mercado San Lorenzo (alertei meu marido sobre a quantidade de brasileiros que tem lá e ele confirmou), e seguimos para Via Nuova De ccacini. Tinha pressa, queria passar lá onde morei aqueles meses e vivi tanta coisa maravilhosa. Tudo exatamente igual. A janela do “meu” quarto estava aberto e tem cortina agora. Tudo mudou e nada mudou. Nunca consegui descrever a emoção e amor que sinto por essa cidade e continua igual. De lá seguimos para Santa Crocce. Passamos na Piazza dela Segnoria e chegamos no rio Arno. Caminhando pela cidade mostrava ao meu marido onde jantamos, a balada que íamos, onde procurei emprego, onde cai de bicicleta, onde tem o brasão da família Médici.


Rio Arno, Ponte Vecchio. Paramos e lá ficamos observando o movimento, o rio, os apartamentos de frente para o Rio. Paramos na Piazza dela República e minha vida antiga se misturou com minha vida nova. O carrossel foi o lugar escolhido pela minha filha para se divertir. E lá ela foi e eu me senti em 2008 de novo naquela praça por um segundo até ouvir uma “mãe” e sorrindo voltei para o novo. Passamos um tempão na piazza do Duomo. Consegui observar os detalhes, curtir a imensidão e cada pintura na porta e cada figura gravada em suas paredes. Minha filha sentada na frente da Catedral dando oi e ciao para as pessoas, mesmo lugar que anos atrás eu conheci tanta gente e me despedi de outras muitas também. O velho e o novo.
Eu não sei dizer quanto tempo passamos na piazza do Duomo na semana em Firenze. A ideia era essa, uma semana sem pressa, curtindo a cidade e visitando lugares no nosso tempo. Quando morei, estava num esquema fome zero e não consegui conhecer todos os museus, dessa vez compramos um passe que nos possibilitava conhecer todos os museus em 3 dias. Foi incrível pois com o calor de 40C perto do almoço ou assim que a Amanda pegava no sono corríamos para um museu ou uma igreja.

Visitamos praças, lugares que eu não tinha ido (o velho se renovando) e que não puder ir. O Palazzio Pitti foi um. Tinha ido no Giardini de Bobboli mas não tinha entrado no Palazzio. Casa de Dante foi outro exemplo (que pessoalmente não vale a pena). Fomos no museu de Galileu e meu marido se divertiu muito. Conheci o Batistério tão maravilhoso e subimos na Campanilla de Giotto, a torre do lado do Duomo.
Fomos na Capela Médici, meu lugar favorito e minha filha amou brincar com eco. Uma emoção em vê-la correndo pela Capela e revisitar os desenhos de Michelangelo na sacristia… e vimos o David na Galeria dela Academia, essa obra prima de Michelangelo.

Ver a cidade do alto, em extraordinária beleza foi outro ponto forte da viagem. Passamos meu aniversário lá e jantamos em um dos meus restaurantes preferidos no almoço (Trattoria Anita – que não tem ar condicionado e estava um calor dos infernos, mas o espaguete ao ragu continua maravilhoso) e a noite no Guibellini. Que presente estar ali de volta no meu aniversário 9 anos depois J.
E ainda conheci uma querida colega de BPM, a Chris que mora na China. Ela estava de férias com a família e nos encontramos pessoalmente porque já falamos pela internet há dois anos.
Ainda revi amigos queridos e senti como o tempo não passa. Nos encontramos no Moyo, bar que toda quinta feira íamos comer um aperitivo, tomar um drink e seguíamos para Twice, a balada favorita. Dessa vez estávamos com a família. Como o tempo não passa com amigos. Aluízio e Fabio, ficamos horas ali conversando e relembrando e matando as saudades e contando as mil novidades.
Dia seguinte eles nos levaram na Piazza Michelangelo e para comer pizza em um restaurante delicioso em um lado da cidade que eu não conhecia, até porque não tinha carro e estamos sem. No alto, muito legal.
Consegui o que queria: fazer meu marido ver com meus olhos o amor que sinto por Firenze e ver a beleza que está escondida atrás de cada escultura. Até consegui mostrar como os ugares fecham para férias mesmo na estação mais movimentada do ano. Italiano sabe viver bem a vida.
Meu último dia em Firenze teve uma sensação de despedida, mas uma certeza de que nos veremos de novo. Uma melancolia e uma alegria em ter dividido com minha família meu amor por Firenze e ter mostrado a cidade para eles com meus olhos. Que privilégio estar ali e que maravilha como a vida muda e como nada muda ao mesmo tempo. A cidade continua igual ao que lembrava, mas eu estava bem diferente.
Só tenho a agradecer a Deus e as nossas escolhas que me levaram a Firenze em 2008 e me trouxeram de volta a ela.
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