Austrália: as mulheres e a multiculturalidade

Nesses anos na Austrália, convivi e convivo com diferentes mulheres, de diferentes idades. Logo no começo, a primeiro impressão que tive das australianas é que elas usam roupa muito curta e não só no lazer, mas inclusive no trabalho. Cheguei em Perth em agosto e mesmo com o frio que fazia, via muitas mulheres andando pelas ruas com roupas que no Brasil chamariamos de “saia/vestido cachecol” (sem julgamento, só uma impressão).

Colega de trabalho do Cafe

No café que trabalhei por quase um ano, convivi com mulheres em torno de 20 anos como colegas e clientes de toda faixa etária. Minhas colegas de trabalham eram, em geral, tranquilas. Fora os surtos de chefe e a má educação típica de quem trabalha em “hospitality” (restaurantes, limpeza), foi ok. O primeiro “choque cultural” que tive foi um dia conversando com uma colega de trabalho ela perguntou com quantos anos eu casei. A conversei foi assim:

“Com quantos anos você casou?”

“30 anos”

“E você morava sozinha antes?”

“Sim, mas meu marido morava com os pais. No Brasil, em geral, saímos de casa para casar”

“Seu marido saiu de casa com 30 anos?”

“Sim”

“Aff, que loser” (fracassado)

Pois é, aqui eles saem de casa com 18 anos. Os pais fazem eles ajudarem com as despesas, como um amigo meu disse “com 18 anos meu pai me deu uma conta para pagar o aluguel do meu quarto”.

Com as clientes do café, eu via a multiculturalidade. Mulheres do mundo inteiro trabalhando em empresas e aí comecei a conhecer a maior das vantagens de ser mulher na Austrália: a flexibilidade profissional. Algo como poder trabalhar meio período, mas já falarei disso.

Não consegui estabelecer nenhum vínculo muito grande de amizade pela grande diferença de idade e falta de coisas em comum, mas mantenho contato com todas.

Sai do café e fui trabalhar em um childcare. Aí, não somente comecei a ter contato direto com as mães, mas com as colegas, e comecei a entender bem o tal do “part time job”. Acho que ter flexibilidade para trabalhar meio período é o sonho de muitas brasileiras (sempre foi o meu), principalmente quando você tem filhos. E o meio período não significa trabalhar todo dia, mas qualquer emprego que se trabalha menos de 40 horas por semana é considerado “part time”. A maioria das mães que conheço trabalham 3 dias na semana e ficam 2 com os filhos. E veja, estou falando de advogadas, consultoras, médicas, enfermeiras, psicólogas, empresárias. É super comum.

Minhas colegas de trabalho que são mães são todas part time. Trabalhando com criança minha covivência com mulheres aumentou muito, e comecei a conhecer de verdade as mulheres que eu convivo. A multiculturalidade na Austrália é incrível. No meu trabalho somos eu de brasileira, 1 filipina, 2 da Malásia, 1 de Bangladesh, 1 ucraniana, 1 da Nova Zelândia e 6 australianas.

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Queridas amigas
Colegas de trabalho (Austrália, Filipinas e Brasil)

 

Também temos pessoas do mundo inteiro: Rússia, Espanha, Índia, Sri Lanka, Austrália, Irlanda, Inglaterra, Estados Unidos, Peru, Brasil, China, Holanda, Alemanha, França, Indonésia. Com tantas famílias de tantos lugares no mundo, conseguimos imaginar quantos costumes, religiões, festas e tradições diferentes estão convivendo juntas.

Das minhas colegas de trabalho, minha melhor amiga é das Filipinas. Impressionante como temos coisas parecidas: não só na nossa criação, mas no país. Conversamos muito sobre qualidade de vida, corrupção e até o idioma (ela fala espanhol). Até as músicas de infância são parecidas.

Aprendi, convivendo com as mulheres aqui, que é tradição na China as crianças não tocarem o chão até os 6 meses de idade. Aí entendi que é por isso que aquela bebê chinesa berrava, querendo colo o tempo todo. Aprendi que as australianas em geral criam seus filhos para serem independentes. Aprendi que as australianas e europeias acham super normal trabalhar meio período. As latinas acham um super beneficio e as asiáticas acham super estranho e se sentem culpadas.

Aprendi que na Ásia é falta de educação abrir presente na frente das pessoas. Que na Índia o maior feriado é o Diwali (festival das luzes) e o ano novo chinês muda de data a cada ano.

Nunca fui discriminada por não ser australiana ou não ter o inglês como minha primeira língua. Pelo contrário, não só minhas colegas, mas as mães me tratam com o maior respeito e me admiram.

Staff do meu trabalho e o pastor (bendito fruto)

Ser mulher na Austrália também significa se vestir como quer, ter a cor de cabelo que você quer e ninguém te olhar torto ou te encarar. Significa ter uma mega qualidade de vida, ser mãe, amiga, filha, esposa e profissional. E não precisa estar sempre arrumada e perfeita porque ninguém liga. Os maridos entendem e ajudam. Quantas e quantas vezes não vi nos parques maridos sozinhos com os filhos. Teve até uma vez que estava o pai com 3 crianças entre 1 – 6 anos. O do meio perguntou “onde esta a mamãe?”. A resposta do pai “não sei, talvez fazendo a unha…”.

Principalmente, ser mulher na Austrália significa ser você, aquele você que você quis ser mas nunca teve coragem, ou não dava porque tinha que trabalhar para pagar as contas. Aqui ninguém vai te julgar se você disser que não trabalha porque cuida dos filhos e você não ficará para trás na sua carreira pela mesma razão. Para mim, ser mulher na Austrália é ser livre, me sinto, finalmente, eu – lembrando sempre que  isso tudo é o meu ponto de vista.

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3 comentários sobre “Austrália: as mulheres e a multiculturalidade

  1. Acho essa multiculturalidade fascinante! E que bacana encontrar alguém de outro continente que teve tanta coisa em comum com você na infância. Às vezes a gente imagina as pessoas de outros países como se fossem “marcianos”, e tivessem uma vida muito diferente da nossa, né? Muitas vezes são bem diferentes mesmo, mas também existem semelhanças e a gente só descobre quando temos essa oportunidade de conhecimento. Adorei!

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    1. Eu também acho, Rosângela. Fico encantada que moro em um países com tanta diversidade e aprendo tanto. Adoro ouvir as histórias de vida, como é a vida nos países de origem e os ritos e comemorações culturais. Graças a Deus a Austrália é um país “da paz” não?
      Muito obrigada por ler o blog 🙂

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