No post passado dividi minha experiência da minha segunda gravidez. Para ler clique aqui.
Bem, então meu filho nasceu, lutando pela vida. Com três horas de vida, teve que ser submetido a uma cirurgia de emergencia e de lá seguiu para UTI neo natal, onde ficou por 12 semanas. No primeiro dia após a cirurgia eu mal conseguia andar por causa da cesarea, e não consegui vê-lo.
A primeira vez que o vi no NICU, ele tinha dois dias de vida. Estava dopado, cheio de fios e cabos. Ele nasceu pesando 1.200g e era tão pequeno que dava aflição tocar nele. Ele ficou um tempo de barriga para baixo pois era mais fácil respirar e por conta da cicatriz da cirurgia. Tambem não podiamos pega-lo no colo por causa da cirurgia e por ele estar muito fraco.
Sai do hospital onde estava internada de cadeira de rodas até o Hospital da criança (não são no mesmo prédio). Podia ficar uma hora só por orientação médica, afinal, eu estava me recuperando de uma cesárea clássica.
Cheguei lá, aquele ambiente barulhento, muitas luzes e encontrei meu bebê em uma encubadora, lotado de fios em volta dele. Quando eu o vi a primeira vez, ele ainda não tinha feito xixi, e os nefrologistas estavam preocupados se ele não tinha tido falência dos rins. Eu toquei na pele das costas dele e ele se mexeu ao ouvir minha voz. Naquela noite, ele fez xixi pela primeira vez e entendi como as coisas mais lindas da vida estão nas coisas mais simples: um xixi.
Assim que sai do hospital, entramos em uma rotina doida de passar o dia com o Dani, pegar Amanda na escola, meu marido dirigindo todo mundo pois eu não podia dirigir.

A vida no NICU é cheia de altos e baixos. Médicos extremamente qualificados e enfermeiras maravilhosas, logo me tornei amiga de várias. O cuidado com cada criança, cada bebê me fez admirar mais ainda essa profissão. Eu passava meus dias lá. Ventilador, oxigenação, nivel de morfina, saturação, e outros muitos termos que fomos ficando familiarizados com o tempo.
Todo tratamento do meu filho foi feito com total profissionalismo e se eu tinha insegurança em relação a medicina aqui, após essa experiência, não tenho mais. Em todo momento que meu filho ficou internado, eu nunca deixei de confiar nos médicos, não só tecnicamente mas também pelo lado humano – como são humanos aqui e se preocupam com a familia.

Todos os dias, duas vezes, os médicos passavam para avaliar cada criança e dar um boletim e conversar com os pais. Inclusive, eles até perguntavam minha opinião sobre ele, pois como eles dizem, mãe sabe de cada detalhe da saúde e do bebê em geral. Se a mãe esta preocupada ou se ela ve algo diferente, algo esta errado e eles investigam.
Nas primeiras semanas de vida do Dani, ele ficou no salão principal da UTI neonatal, onde ficavam as crianças que precisavam de mais atenção. Nesse período ele tinha uma enfermeira cuidando só dele 24/7. Conforme foi ficando melhor, uma enfermeira para dois bebês. Com mais alguns dias, uma enfermeira para quatro bebes. Fora os médicos e enfermeiras, fazem parte da equipe uma assistente social, psicólogos, pastoral (que mais tarde descobri que tem como função principal, ajudar a organizar em caso de óbito), parteiras, consultoras de lactose. Fora os funcionários da administração, os médicos especialistas e os pais. Ah, os pais.
As amizades que fazemos são lindas. Passamos muito tempo no hospital e é incrível como torcemos por cada uma daquelas crianças com amor. As amizades, muitas vezes, são silenciosas. Muitos pais nem cheguei a conversar mas trocavámos olhares e sorrisos. E me emocionava sempre quando eles iam para casa.
Por mais que estivesse “sozinha” ali, olhando meu bebê, eu nunca me sentia sozinha. A primeira vez que segurei meu filho no colo, ele tinha 3 semanas. Foi maravilhoso, uma operação de guerra para coloca-lo no meu colo com todos os tubos, ventilador, medidor de saturacao e outras parafernalias. Ele tinha 4 semanas quando amamentei a primeira vez (e ainda amamento hoje, escrevendo esse post, ele com 7 meses). E comemoravamos as pequenas vitórias, como sair do salão principal da UTI e ir para uma ala de crianças mais saudáveis, que precisavam de menos cuidados. Cada vez mais perto da porta de saida.
No meio da nossa estadia no NICU, o hospital mudou de prédio para um novo, moderno e impressionante. Fizemos parte da história, e até em jornal e TV saimos, dando entrevista. Este novo hospital tem um lounge para os pais, quartos individuais para pais ficarem quando eles nao sao de Perth e vem do interior com seus filhos ou para mães que começam a estabelecer amamentação (meu caso) e precisam amamentar a cada 2 ou 3 horas na madrugada. E ainda recebiamos um “voucher” (vale refeição) de $10 para podermos comer nos restaurantes e cafés do hospital.



O novo hospital é incrível, com vista para o Kings Park, e com várias curiosidades: por exemplo, o hospital não tem nenhuma parede com quinas, todos os cantos são arrendondados, a pedido das crianças que ja ficaram internadas la. Os equipamentos de ressonância magnetica tem temas, então quando a criança vai fazer o exame, pode escolher se quer que a maquina fique decorada com o tema de “Frozen”, de “Guerra nas estrelas” entre outros. Todas as cores do hospital foram escolhidas pelas criancas, e tem varios animais de madeira por todo o hospital onde os pacientes e seus irmãos e amigos podem brincar. Tudo isto baseado em estudos que provam que ter um ambiente agradavel faz as criancas se recuperarem mais rapido, que faz com que o gasto com saude diminua. Então gastaram mais na construção, mas sabendo que vão economizar no longo prazo… Impressionante, ainda por cima sabendo que o hospital é público.
No hospital antigo os pais se “estapeavam” por duas cadeiras reclinaveis para amamentação – eram duas cadeiras para toda a UTI neonatal, que tinha 25 pacientes. No novo hospital, cada leito tem uma poltrona reclinável e uma outra poltrona normal. E ainda um armário para deixar as coisas. E todos os leitos estão no máximo a 2-3m de uma janela que da para o parque, com vista. Tudo pensado na recuperacao mais rápida dos pacientes…
Todos os exames que meu filho precisou fazer foram feitos sem espera ou demora. Qualquer preocupação que eu tinha, vinha um médico conversar, ou um especialista. Exames de sangue, ultrasom até ressonância ele fez. Ah, sem contar os ecocardiogramas e ultrasom do cérebro.
Durante sua estadia, descobrimos algumas complicações, e ele precisaria de materias médicos. Tudo providenciado pelo hospital, público. Ele foi para casa com oxigênio e tomando uma fórmula especial para ganhar peso. Todos esses itens são chamados “home consumables” e entregues na minha casa, não pagamos por nada – na verdade pagamos, através dos impostos =)
Um dos momentos mais lindos que vivi no NICU foi com a enfermeira chamada Blair. Um dia, quando Dani estava no salão principal em um domingo, cheguei para visita-lo e ela veio com uma foto dele com os olhos abertos pois não sabia se já tinhamos visto ele assim. Comentei que ele tinha uma irmã mais velha e ai ela me pega a foto e escreve um recado para ela, como se fosse ele escrevendo, dizendo algo como “Oi Amanda, sou o Daniel e não vejo a hora de ir pra casa brincar com você”. Ai, um mês depois quando ele já estava na enfermaria, ela veio me ver e pegou ele no colo. Quando vejo, ela esta conversando com ele e os olhos cheios de lágrimas. Naquele momento tive certeza como meu filho era alguém para aquela equipe tão dedicada, e não so um paciente.
Outro momento lindo foi a exceção que uma das enfermeiras fez em deixar minha filha conhecer o irmãozinho. Criança que não é paciente não pode entrar no NICU, mas elas deram um jeito.
Quando recebemos alta, foi um dia incrível e difícil ao mesmo tempo. Senti falta das enfermeiras, das conversas, dos pais que conheci. Mas foi tão emocionante sair de lá com meu bebê milagre. Vi tantas vezes pais se despedindo e aquele dia era eu!!!!
Hoje, escrevendo esse post ainda vamos quinzenalmente para o hospital ver os especialistas e ele já foi reinternado três vezes por conta de bronqueolite ou resfriado. Nunca tivemos nenhuma despesa médica. Somos tratados com muito amor, humanidade e respeito. Não tenho o celular do pediatra (até porque aqui vamos no clínico geral para se preciso referenciar ao pediatra) mas tenho apoio dos médicos que cuidaram dele e conhecem como ninguém.
Tenho email e telefone dos especialistas que nos acompanham e suas equipes de apoio, se preciso tirar alguma dúvida. E tudo, sem gastarmos um centavo, público, para residentes e cidadão australiano.
Ainda, como meu filho precisa de cuidados especiais em casa, eu recebo uma ajuda semanal do governo, porque o proprio governo sabe que gasta menos ajudando a mae a ficar em casa com o filho se ele realmente precisa (tem um processo para se aprovar esta ajuda, que tem que ser recomendada pelos especialistas do hospital) do que tendo que pagar hospital pra ele caso ele fique doente de novo… Fala sério esse assistencialismo maravilhoso =)
Me emocionei com tudo que passou com seu filhote guerreiro!! Que Deus continue abençoando seu anjinho!! E que maravilha de hospital!!
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Obrigada ❤️
Foi intenso e apavorante mas estamos aqui, ele um fofo crescendo e feliz :).
E sim, que equipe, que hospital, graças a Deus!
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Olá Aline
Há quanto tempo… que história. Que testemunho. Que coisa linda. Me emocionei lindamente. Fiquei realmente tocada não só pela história, como pela realidade de vida que sabemos bem distante da nossa aqui no Brasil. Sei que já se passou quase um ano, mas penso que a emoção é a mesma a qualquer tempo que lermos.
Bjs e me diz, tem Coronavírus aí? Aqui estamo em quarentena…
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OI Ana, nem fala. Dani vai fazer 2 anos e toda vez que penso em tudo que vivemos, me emociono. Ele é um milagre, um sobrevivente.
OBrigada pelo carinho :).
Estamos em quarentena também. Fica bem, e em casa 🙂
Beijs
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