Viver no Exterior

Escrevo há quase dois anos para o Blog “Brasileiras pelo Mundo” e diversas vezes recebemos dúvidas relacionados a como é viver no país onde estamos morando, e é muito comum comparar com a vida no Brasil. Ouço que a vida na Austrália deve ser maravilhosa, perfeita, fácil e leve. Nesses anos compartilhando minha experiência, tentei ser o mais realista possível. Viver fora é muito bom, mas não é um paraíso como muita gente pensa.

Viver no exterior é uma escolha, e como em toda escolha, há renúncias e consequências. Tem muita coisa que se ganha, mas muitas outras que se perde.

eu (no ipad) participando de eventos familiares

A primeira coisa que é necessário se ter em mente: você esta começando sua vida do zero, ninguém aqui te conhece e nem sabe como você é um bom profissional. Você terá que provar e reconhecer (oficial e literalmente) sua experiência profisisonal e sua formação. Isso significa gastar dinheiro, tempo, e muitas vezes omitir qualificações no Curriculum e trabalhar em cargos mais baixos do que permite a sua competência. Escrevi sobre isso no post “Trabalhar na sua área de atuação“.

Isso significa que não importa o quão bom você é na sua profissão, aqui terá que comprovar, primeiro sua formação, e depois sua experiência. Por isso conseguir o primeiro emprego na área é tão difícil. Se o seu visto te permite trabalhar 20 horas por semana (normalmente os vistos de estudante permitem só isso) será mais difícil ainda arrumar emprego na sua área, ainda mais em um momento tão delicado que a Austrália e o mundo vivem economicamente.

Essa questão da profissão é algo que tem que ser pensado e repensado, e muito importante na vida de imigrante. Dá para conseguir sim emprego na sua área, mas se prepare porque não é fácil. Não venha com a expectativa de conseguir em poucas semanas um emprego como o que você tem ou tinha no Brasil, porque existe um alto risco de isto não acontecer e voce se frustrar. Fale com uma agência de imigração para ver se sua profissão/diploma precisa ser reconhecida aqui, veja nos sites de busca de emprego como anda a sua área e quais os requistos para trabalhar. A maioria das perguntas que recebo são “como é minha profissão na Austrália?”. Honestamente, eu não sei, só conheço como anda o mercado da minha profissão e de algumas lendo no jornal. Dá para ter uma ideia com os sites de busca de emprego. Pesquise e pesquise.

Até conseguir trabalhar na sua área, muito provavél que você precise trabalhar em outras áreas (não menos dignas), como faxina, entretenimento (garçom, lavar louça, ajudante de cozinha, por exemplo). É bem puxado fisicamente, mas a boa notícia é que voce consegue sim pagar as suas contas e se manter por aqui trabalhando nessas áreas. Da facilidade ou não de conseguir emprego, depende da estação do ano e da cidade. No verão tem muito mais oportunidade que no inverno, assim como as cidades grandes tem mais oportunidades como garçom do que cidades pequenas. 

Existem outros ônus de se morar no exterior. Estar longe da família significa não ter ninguém para te ajudar, apoiar, cuidar de você. Significa não estar lá em casamentos, nascimentos, falecimentos. Tive alguns momentos de muita solidão aqui acompanhando pela internet momentos importantes na vida dos meus queridos no Brasil. Chorei com o celular na mão vendo casamentos,esperando fotos de nascimento de bebês, fazendo vídeos para estar um pouco mais presente.

Abençoada internet, Whatsapp, Facebook e Skype, que tornam as distancias menores. Vi amigos terem filhos, casarem, pessoas amadas falecerem, amigas passando por dificuldades. Isso tem que ser pensando antes de mudar. Tem muita gente que sofre de depressão com o choque que sofre por ficar longe da família. A Cristina Wulfhorst escreveu um texto muito bom sobre isso no “Brasileiras pelo Mundo”. E não esqueça que a Austrália é muito longe, e ir para o Brasil é caro. Não dá para pegar o primeiro voô, pois o primeiro voô te custará a vida e você só chega lá em, pelo menos, 26 horas. 

É caro viver no exterior se voce não tem cidadania (pelo menos aqui na Austrália). E como é caro. Se paga o dobro em tudo: seguro saúde e bem mais caro para estrangeiros. Você paga mais imposto que um local e não tem menos beneficios. Você precisa pagar pela educação pública (caso voce tenha filhos em idade escolar). Para comprar algumas coisas tem que ser a vista, como por exemplo carro. Poucos lugares fazem financiamento para estrangeiros, e mesmo quando fazem, o fazemo no máximo pela duração  do seu visto. Pagamos imposto sem ter o retorno dos benefícios que quem é cidadão tem. Claro que temos a seguraça, a qualidade de vida. O retorno mesmo vem quando se torna Residente. Ai a vida muda. 

Viver no exterior, signifca ser estrangeiro em uma terra que você mora há anos e se sente em casa. Ou quase em casa. Tem pessoas que dizem que não se sentem em casa nem no país que escolheu, nem no país que nasceu. Significa não ter história de vida, nem turma de escola, da faculdade, da rua, de infância, do trabalho. Com os anos, se constroí um círculo de amigos, mas nunca é tão variado quanto do Brasil. 

Porém, se conhece muita gente bacana quando vivemos no exterior. As amizades aqui tem peso de família. Carências de quem vive no exterior. A família esta presente nas fotos que mandamos e no tempo que passamos no Skype, mas os amigos estão aqui e vivos nas fotos que mandamos para a família. Se conhece gente de países que nem sabia que existiam. De culturas que nem sabia que admirava. E assim, viver no exterior nos torna mais abertos, mais alertos ao novo e mais receptivos às diferenças. 

 

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Amigos queridos, nossa família australiana

Até você ajeitar a sua vida em outro país, demora e custa dinheiro, calos, dores no corpo, muito suor e lágrimas. Lágrimas de cansaço, de saudades, de incertezas. Para mim, demorou quase 2 anos para acertar a vida. E isso porque eu fui flexível suficiente para pensar em alternativas, mudar de profissão, aceitar o tempo certo das coisas. 

Isso é algo que se aprende morando no exterior: a ser flexível. Você abre a sua mente de uma forma que nunca imaginou, pois o mundo se abre para quem se abre para ele. 

Uma coisa muito estranha que acontece quando se mora no exterior é que toda vez que você visita a família no Brasil, você se sente estranho, talvez um estrangeiro na terra que nasceu. Tem pessoas que morrem de saudades de “casa” e alguns dias após estar lá, lembra exatamente porque saiu e já quer voltar para a outra “casa”. Tem pessoas que vão como turistas, aproveitando o que de melhor o Brasil tem a oferecer. 

E quando se visita o Brasil, tem que tomar cuidado para não falar que adora morar fora, porque muita gente te ve como arrogante, sem saber de todas as dificuldades que você também passa morando longe. E parece que morar no exterior te tira o direito de opinar sobre o Brasil. Afinal, “você não esta aqui para saber”. Porque uma coisa que chamou muito a nossa atenção é que brasileiro acha que os seus problemas sao os piores do mundo, e que tudo que vem de fora é bom. Mesmo não sendo. Tem muita coisa no Brasil melhor que na Austrália, mas só morando fora para saber e dar o devido valor. 

Porém, se você passa pelo sufoco, é flexível o suficiente para se adaptar, arregaçar as mangas e enxugar as lágrimas, viver no exterior pode ser incrível. Principalmente, na minha opinião, é que você, vivendo no exterior, pode se reinventar, começar do zero e ser quem sempre sonhou, pois isso essa é a melhor coisa que se ganha quando se vive no exterior. 

See ya,

 

 


15 comentários sobre “Viver no Exterior

  1. Oi Aline,

    Foi realista e muito sincera, cheguei até a sentir um desabafo . As pessoas querem o bônus de morar fora, mas se esquecem do ônus . O trabalho começa quando você começa a pesquisar sobre o assunto , e a partir daí , dá-lhe pesquisas , visitas em agências , documentos , mais documentos , e dinheiro só saindo do caixa ! E ainda nem sai daqui , é preciso ser consciente e estar preparado em todos sentidos .
    Parabéns ! Texto cheio de realidade! Obrigada por compartilhar !
    Você já é uma cidadã australiana ?

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    1. Alicia, foi mais um desabafo mesmo. Cansa ouvir comentários de que vivemos no paraíso e a vida é fácil aqui. Você vai ver. Trabalhar que nem uma camela, aí posta uma foto tomando vinho, pronto. Tá de férias aí haha.
      Está na hora de acabar esse romantismo. E ser realista.
      Sou residente. E só saiu em maio desse ano 😓

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      1. As pessoas enxergam o que convém aos olhos ! Liga não , você , e eu ( que li quase todos posts) sabemos que a realidade é bem diferente !
        Embarco dia 05 de outubro para Perth! Passagens compradas , documentos enviados para liberação do visto , cursos fechados ! Falta acomodação , estamos vendo as acomodações nos campos da Curti e na 2stay, você conhece ?
        Que deus prepare pessoas boas como as que você encontrou !
        É o post sobre enviar dinheiro do Brasil pra Austrália , sai até setembro ? 😉
        Obrigada pelo apoio !

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      2. Eu não ligo mais, só não posto mais nada no face porque não tenho paciência e quando me perguntam sobre morar aqui, a resposta sempre é “tudo bem”.
        5/10? ai que frio na barriga! Se eu Não estiver trabalhando posso pegar vocês no aeroporto, que horas vocês chegam?

        Moradia: os dorms da Curtin são bem bacanas sim. Lembro que é bem difícil conseguir, e tem um ambiente bem universidade sabe? Não se preocupe se não conseguir nada por lá, tem bairros próximos muito legais também. Bentley é o mais próximo e não é tão legal, mas Como, Manning são outros bem perto e com onibus direto para lá. Eu aconselharia vocês a fechar um Airbnb por uma-duas semanas e ir atrás de uma casinha dai. Vcs até acham mobiliada de boa.

        Sim, o post sai antes. Vou cobrar meu marido (ele que vai escrever haha).

        Beijos

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  2. Aline Querida, muito obrigada pela sua disponibilidade , chegamos à noite , vamos pegar um táxi no aeroporto , não se preocupe! Paulo a tarde procurando nosso cafofinho no Airbnb , super dica! Ele já fez cadastrado e já fez contato com uma proprietária , estamos caminhando bem !
    Vou concluir um Mba aqui em Recife , é dia 01/10 vou pra São Paulo me despedir de uma parte da família. Dia 02/08 estarei em Curitiba, você quer algo de lá ? Lembro que falou que tem parentes por lá !Posso levar algo da sua família pra você .Me manda um e-mail , que eu eu pego , não será trabalho .

    😘🌹

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    1. Alicia, você que é uma fofa. Obrigada pelo carinho. Vamos para o Brasil no final do ano então não precisamos de nada não. Muito obrigada, de coração. Você ainda está terminando mba? Puxa que correria. Ta chegando hein? Passa tão rápido…. Logo logo estão aqui :-).beijos

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  3. Olá Querida Aline, já escrevi algumas vezes nesse post , mas não está registrando . Vamos tentar novamente . Você é tipo aqueles pessoas do “bem” que a gente encontra na vida né ! Chegaremos à noite , não se preocupe , pegaremos um táxi até nosso cafofinho, e falando nele , já fechamos um em Wilson , fica 2,2 km da Curtin, sua dica do Airbnb , foi ótima! Muitoooo Obrigada, quero muito conhecê-la. Vou me despedir dos meus país agora dia 02/08 em Curitiba , lembrei que você tem parentes por lá, quer que pegue algo para levar pra você ? É só me mandar um e-mail , não haverá problema algum .
    Me envia por favor, novamente , o link do grupo de Brasileiros de Perh no face .

    😘🌹

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    1. Desculpe, eu que demorei para ver mesmo. Tive uma semana tão doida, estou fechando umas parcerias e logo mais poderei ajudar mais nas dúvidas.
      Consegui Airbnb? Que legal. Wilson é um bairro que está sendo reformado. Era bem maromeno e agora está virando mais residencial e bacana. A localização é ótima. Perto da Curtin e não tão longe do Carrosel, um dos maiores shoppings da região.
      Segura o coração nas despedidas. É óbvio que vamos nos conhecer, também quero muito conhecê-los. Já nos falamos a tanto tempo que me sinto sua amiga haha.beijos e obrigada

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      1. Oi Aline,

        Me desculpe, eu não estava recebendo aquela confirmação do envio sabe, aí achei que não estava indo, por isso vários envios, me perdoe.
        Wilson, está bem pertinho da Curtin, pelo menos dá pra administrar as primeiras semanas,seria mais barato na Curtin, sem dúvida, mas os flats para casais são bem concorridos, e os disponíveis, tinha que dividir o banheiro, essa parte teve um peso na descisão. Depois que chegarmos, vamos nos situando e procuramos algo no mesmo estilo, mas quem sabe mais em conta.
        Deixa eu te pedir um favor, sabe aquele grupo no face de brasileiros, que anunciam vagas de trabalho e tal, você me passou o link, mas não estou localizando, poderia compartilhar novamente?

        P.S: eu estou me achando a amiga faz tempo, falo pra Paulo, “minha amiga Aline respondeu o post tal” kkkkkk

        Desde de já agradeço

        Beijos

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      2. Imagina, sem problemas.
        hahaha eu sinto que nos conhecemos também :-).
        Muito legal que conseguiram fechar a moradia temporária e vocês conseguem sim achar algo, até mobiliado, se quiserem. Estaremos próximos, vamos para Salter Point em setembro. Quando vocês chegarem conversamos, mas posso ajudar vocês nos viewings, é um saco ir de onibus. Mas nos falamos aqui, quando vocês chegarem. Não achou o grupo?
        https://www.facebook.com/groups/BrasileirosPerth/
        https://www.facebook.com/groups/1383929495239967/
        Se não conseguir me avisa que eu consigo te convidar pelo face.
        O Paulo vai fazer Mestrado em que? Você já deve ter me falado e eu to com a cabeça aqui na Amanda,meu cérebro não funciona tão bem haha.
        Beijos,

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  4. Oi Aline, tudo bem? Eu e meu marido estamos a um mês da nossa chegada aí em Perth, e ultimamente tudo que leio me emociona… Muito sincero e tocante seu texto. Espero te conhecer em breve 🙂
    Bjs

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