Estágio no Adiconsum em Florença

A minha ideia de fazer o estágio na Itália foi, basicamente, porque tirar um sabático no Brasil não é bem visto. Diferente da Europa e1 Austrália, brasileiro vê como irresponsabilidade. Para não correr o risco de empacar na volta para buscar emprego, resolvi fazer algo profissional da minha viagem.

Meu comprometimento era tanto que o único estágio disponível era pago, não por eles, por mim. Paguei 600 euros em 2008 para trabalhar 3 meses. O plano era, quando eu chegasse em Florença, falaria com a agência de lá e eles iriam atrás de lugares que topam esse tipo de programa.

Fiz uma entrevista na agência de emprego, para eles avaliarem como estava meu italiano e entenderem a minha expectativa. Uma semana depois, fui fazer uma entrevista no Adiconsum, Associção Comercial sem fins lucrativos que cuida de consumidor e meio ambiente.

Conversei com a coordenadora do estágio, Simona. Ela demorou 30 minutos para chegar (Italianos são absolutamente impontuais..) e usou uma palavra que eu não tinha entendido em Italiano. Quando perguntei o que significava fez uma cara de “ai, meu Deus, essa ai não fala nada italiano” (sim, outra característica dos italianos, eles são bem impacientes), e 20 minutos após tinha mudado de idéia dizendo: “Nossa, mas seu italiano é muito bom!”, você vai adorar o trabalho. Me falou da oportunidade, como era, o que eu vou fazer. Eu gostei bastante, achei bem legal e fiquei bem empolgada.

Ainda tive mais uma entrevista com a advogada coordenadora do local. Ela me explicou exatamente como seria o estágio e o que o Adiconsum faz. Eles são uma espécie de Assistência Jurídica gratuita, mas com poder de arbitragem. É uma instância pré corte para tentar resolver problemas  fazendo acordo. Minha função é ajuda-los nos casos, escrever cartas, pareceres, pesquisar legislação. A associação ainda promove palestras em outras cidades da Toscana.

Meu primeiro dia foi intenso. As pessoas vão até o local para consultar um advogado que os ajudará na resolução do conflito ou na corte, se precisar. Depois de meio dia de trabalho lembrei porque eu não gostava muito do Direito. Eu me envolvo demais. Fiquei acabada com as coisas que eu ouvi. A que mais me pegou foi a de uma senhora nigeriana que fez um favor para uma amiga e assinou a compra de uma casa junto com ela, até o marido da amiga voltar da Nigéria. Ela assinou e um ano depois o marido voltou ela assinou a transferência da propriedade pra ele. Fomos analisar os papeis… compra e venda primeiro junto com a amiga e depois compra e vendo pro marido… aos olhos do fisco = IR = 13 mil euros…. mesmo com a grosseria dos italianos, realmente, não tinhamos o que fazer. Ela deveria pagar o imposto. E como ela chorava, coitada.

Voltei pra casa na hora do almoço e a tarde estava tranquilo. Os outros dias foram melhores, atendemos muita gente e percebi que a legislação brasileira realmente é muuito parecida com a Italiana. Na primeira semana tive minha primeira viagem: Grosseto, perto da praia com a minha chefe! Adorei, reuniões, discussões de legislação, networking.

Meu horário de trabalho era das 10hs às 12hs – 16hs às 17:30. Com todo esse tempo de almoço fica a impressão que se trabalha pouco, mas quando estamos trabalhando, não tem pausa nem para o cafezinho.

 

Durante o estágio, fui com a coordenadora, Grazia, para algumas cidades na Toscana. Essa foi a parte mais legal. Conhecer a cultura, as leis, pessoas diferentes com experiências de vida diferente. Todo mundo sempre me tratou muito bem e aprendi muito com eles. Agradeço imensamente a cada uma dessas pessoas que cruzaram minha vida. Grazie.

Audiência

Fui assistir uma audiência com o advogado lá do Adiconsum, Liguori.  Uma pessoa muito bacana com quem conversei muito sobre a diferenças das legislações, ele me ensinou muito sobre os procedimentos processuais italianos, sempre pedia minha opinião nas consultas.
E um dia, fui ao tribunal. Não sabia direito onde era o tal tribunal, fui para o Penal. Cheguei lá, assisti um julgamento e fui encontra-lo no Civil. Ai, encontrei com ele numa sala apertada, um monte de gente falando juntas… ele me viu e disse: “Ciao, só um minuto, to pengando o Termo da Audiência”… Senhores… o termo de audiência é um papel escrito à mão!
Os processos ficam dentro de umas salas, os advogados entram e procuram. Sem escrevente, sem funcionários do tribunal. Uma zona, bagunça. Ai fomos para a nossa sala de audiência.
O juiz fica sentado ao alto com uma secretária do lado, todo mundo na frente, uma gritaria, todo mundo falando junto. Os advogados escrevem nos autos, ai o réu tava atrasado (tava marcado para as 10hs, eram 10:45), o juiz disse: Aspetiamo 15 minuti.. como assim? Esperar mais 15 minutos? Sim.
Que dor de cabeça, como pode? Ai gritamos que já eram 11hs e fomos lá na frente falar com o juiz e ele marcou a próxima audiência para 2.4.09… que horas, Excelência? E ele sem conultar agenda, nada… pensou um pouco e disse: 10:30!
É isso, fomos embora e eu precisava de um café! Fui conversar com o Dr Liguori. Como dá para viver assim , trabalhar assim… a resposta dele… “Dai, siamo cosi, dezorganizzato”. Desorganizado? muito mais que isso. Não tem ordem, regras, nada. Tem um monte de italiano falando ao mesmo tempo.
Mas, ele consitunou, “tem sido cosi alle 2 milla anni. E seu direito é inspirado no nosso”. Não, Dr, o nosso é um bocado mais formal.
Aquele dia voltei para casa andando pelo Arno. Em silêncio.

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